O presidente eleito dos Estados Unidos é filho de um queniano, nasceu fora do continente americano (no Havaí), morou um tempo na Indonésia e tem um nome que remete tanto à África e a países islâmicos quanto aos dois principais malfeitores do governo que vai suceder: Saddam Hussein e Osama Bin Laden.
Mais do que permitir que o primeiro negro (ou mulato) chegasse à presidência, a maior importância desta eleição talvez esteja na associação de Obama com países pobres e alguns classificados pelo seu antecessor como integrantes do eixo do mal. Sua vitória foi comemorada entusiasticamente não só nos EUA, mas em toda periferia do mundo.
Não sei se ele dará crédito aos dados biográficos que o ligam à parte marginalizada do planeta. Poder ser que tente ignorá-los e governe apenas com o objetivo de atender aos interesses norte-americanos. Se agir assim, Obama estará cometendo um erro grave. O engano está no fato de que a saída para a atual crise mundial pode depender da eliminação das diferenças econômicas e morais entre os diversos países.
A eleição de Obama mostrou que, em uma nação anteriormente tida como racista, a cor do candidato não importa mais. A escolha de um negro para o cargo mais importante do planeta nos diz que a maioria das pessoas não acredita no fator raça como algo que realmente represente uma divisão significativa entre os seres humanos. Significativa no sentido de poder-se dizer que determinada raça seja superior ou inferior a outra. Que se possa classificar alguém como melhor ou pior tendo em vista a sua origem racial.
Mas a vitória do filho de um queniano deveria também indicar que outra divisão já não convence mais no sentido de se poder estabelecer separações hierárquicas entre os indivíduos que habitam o planeta: a nacionalidade de cada um.
Do mesmo modo que não existem mais argumentos com um mínimo de validade para atestar que brancos, negros ou amarelos sejam melhores uns que os outros, não se pode mais defender que iranianos sejam superiores ou inferiores a noruegueses.
Assim como as diferenças entre raças são apenas superficiais e aparentes, as diversas nacionalidades também não diferem em sua essência e nas suas condições de desenvolvimento. Independente de onde se tenha nascido e da cultura herdada, a globalização mostrou que as potencialidades humanas são as mesmas. E, se cai por terra a crença na hierarquia de nacionalidades, tem-se como conseqüência lógica a queda também dos indicadores que apontam que uma nação é melhor ou pior que outra: a divisão entre países ricos e pobres, a divisão entre países do bem ou do mal.
A globalização, ao contrário do que muitos pensam, talvez seja mais a eliminação das separações hierárquicas entre as nações do que a imposição do capitalismo sobre todos os povos. Uma imposição que tenderia só a aprofundar a distância entre ricos e pobres. O que se globalizou foi a percepção de que todos podem ter o direito de mudar de vida sem levar em conta as condições fixas do nascimento. Aquilo que se afirmou entre os norte-americanos acabou por se difundir como um desejo mundial: o indivíduo pode ser responsável por inventar a sua história. Que nenhum fator geral como raça, etnia, nacionalidade, crença religiosa ou aspecto físico significa uma limitação real à mudança e ao desenvolvimento de uma pessoa.
Não se resolverá a crise atual mantendo as restrições e os protecionismos que impedem que os diferente países possam permitir aos seus cidadãos melhorar de vida. Não dá mais para conter o movimento legítimo que demanda o fim da divisão da riqueza mundial . Não é mais possível a defesa apenas dos interesses nacionais. Pensar antes em seu país representa hoje uma obscenidade. A globalização fez os EUA serem toda a terra. E Barack Obama deveria aceitar o que a imprensa mostrou: que ele não foi eleito só pelos EUA mas por todo o planeta.
É possível que tenha acabado a era de países imperialistas, hegemônicos, das potências mundiais.
A própria questão ecológica mostra que os efeitos das economias locais são globais. Para se pensar regionalmente deve-se levar em conta o que está sendo feito em todo o planeta. E se não temos recursos naturais ou capacidade ambiental para que todos os terráqueos tenham as mesmas condições de consumo que americanos ou japoneses, temos de repensar a idéia de que a satisfação está no acúmulo de bens e passar a apostar que ela possa estar mais no uso do que temos. Um mundo cuja felicidade está na aquisição sem fim de produtos é uma mundo ainda destinado a manter a hierarquia entre privilegiados e deserdados.
No futuro, com as quedas de fronteiras e a livre circulação dos indivíduos, talvez as pessoas possam viver sob bandeiras diversas, competir nas Olimpíadas sob variados nomes ou classificações. Mas estas divisões representarão o mesmo que uma divisão entre flamenguistas, corintianos ou colorados. Não se pode fazer qualquer afirmação sobre algo preciso que os diferencie, de características comuns que os definam enquanto grupo. Que a única diferença seja a escolha individual por determinado clube, o fato de se estar em determinado momento sob a mesma bandeira.
sábado, 15 de novembro de 2008
BARACK HUSSEIN OBAMA E A GLOBALIZAÇÃO
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